miércoles, 13 de julio de 2011

PERFORMANCE: " IMPOSIBILIDAD"

fotografías: Melissa Garcia


Sobre peles 


*Prelúdio: No centro da cidade nada de estranho parece acontecer. Sob a estática da grande massa cinza dos prédios, as vias pulsam gente, carros, ônibus. As lojas disputam com os camelôs a atenção das pessoas que transitam sem espaço nas calçadas. Caos morno onde pequenas relações vão se tecendo quase invisíveis. Uma jovem mulher de vestido branco carrega uma grande bolsa de tecido, também branca. Nesta bolsa cintos, cintos masculinos. Parece, ao primeiro olhar, apenas mais uma vendedora ambulante. Vagando pelas ruas ela aborda homens. Sua abordagem surpreende. Ela não está vendendo nada, mas propõe uma troca incomum: os cintos usados dos homens independente do estado, por cintos novos.Ação: Adentra o pequeno anfiteatro a mulher em seu vestido branco, e sua bolsa de tecido. Ao alcançar o centro do palco despeja no chão o conteúdo da bolsa. Uma grande quantidade de cintos se espalha pelo chão. Cintos de diferentes cores e tamanhos, cintos de homens aleatórios que cruzaram seu caminho. Espalhados, os cintos lembram serpentes diante da mulher que então se despe, e cuidadosamente arma o vestido no chão, sem dobrá-lo, atrás de si, como fosse uma sombra de si mesma. Em pé, entre o vestido e os cintos, ela se agacha e agarra um dos cintos, com ele amarra suas pernas, pouco acima do calcanhar. Com um segundo cinto amarra-se com pressão visível pouco acima do primeiro. Ela segue num entremeio de vestir e encarcerar, criando com os cintos, recolhidos de homens anônimos, outra pele, outro couro. Os cintos vão crescendo um a um, pouco a pouco trancafiando o corpo. Seus movimentos vão ficando cada vez mais limitados. Cintos em suas pernas tiram a mobilidade. Cintos em sua cintura e torso escondem suas curvas femininas. Cintos em seu tronco tornam o respirar difícil. Cintos em seus olhos a cegam. Ela não consegue mais ficar em pé e tomba. No chão ela segue amarrando-se, mesmo com extrema dificuldade. Exausta, e incapaz de qualquer movimento, acaba.Epilogo: Diante do corpo inerte e silencioso alguém se levanta, deixando a passividade de espectar. Acolhe o corpo e começa a livrá-lo. Outros tantos o seguem. A mulher caída some entre os que a libertam. Outra pele se forma.

 *Performance realizada pela artista colombiana Paula Usuga, em 22 de outubro de 2010, na FAFI, Vitória, Espírito Santo.

Sérgio Prucoli